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As Cafeterias

cafferomaO café, por sua capacidade de estimular o cérebro e alegrar o espírito, é, sem dúvida, uma bebida essencialmente agregativa, incentivadora da sociabilidade e de uma boa conversa. É natural, portanto, que os locais de consumo dessa bebida se tornassem pontos de encontro e centros da vida política, literária e artística, onde predominava um ambiente de descontração e alegria.

Foi em Meca que surgiram as primeiras cafeterias, conhecidas como Kaveh Kanes. Cidades como Meca, eram centros religiosos para reza e meditação e a religião muçulmana proibia o consumo de qualquer tipo de bebida alcoólica. Desta forma, os Kaveh Kanes se transformaram em casas onde era possível se passar à tarde conversando, ouvindo música e bebendo café. A bebida conquistou Constantinopla, Síria e demais regiões próximas. As cafeterias tornaram-se famosas no Oriente pelo seu luxo e suntuosidade e pelos encontros entre comerciantes, para a discussão de negócios ou reuniões de lazer.

Os pioneiros do gênero foram, sem dúvida, as escolas de sábios, onde sorvendo lentamente a bebida, à qual costumava-se adicionar essências como cravo, canela, anis, ou cardamono, os levantinos discorriam sobre os últimos poemas ou relembravam fábulas e lendas.

cafeteria constantinopla

Observando a atmosfera dos cafés nos diferentes países, podemos concluir que eles refletem a mentalidade e o espírito de cada povo. Thomas Macaulay, ao discorrer sobre os cafés ingleses, notava: "Naquele tempo, o café londrino bem podia ser considerado uma instituição política", e continua:"Cada coffee-house tinha um ou mais oradores, cujos discursos eram ouvidos com admiração e elas logo se transformavam naquilo que os jornalistas de nosso tempo chamam de o quarto Estado."

Havia na Inglaterra cafés para todos os gostos e profissões. Em alguns, médicos famosos atendiam seus clientes, em outros, judeus vindos de Amsterdã entabulavam negócios. Naqueles freqüentados por puritanos, onde era proibido praguejar, discutiam-se as condenações eternas, enquanto conjuras eram tramadas nos freqüentados pelos papistas.

Em Viena, os cafés constituem ainda hoje um dos pontos de atração da cidade, destacando-se pelo bom gosto e requinte das instalações. Todo vienense tem seu café predileto, onde pode ao mesmo tempo sentir-se no aconchego do lar e participar da vida das ruas, sendo por isso o local preferido pelos idosos, tão numerosos nessa cidade.

Uma característica típica dos cafés vienenses é a leitura dos jornais. Este costume foi instituído por Cramer, que punha à disposição de seus fregueses não apenas jornais austríacos, mas de todas as capitais da Europa, propiciando aos clientes tomar conhecimentos e discutir os principais acontecimentos mundiais. Entre os cafés vienenses destacam-se o Imperial, preferido por Brahms, e o Café D'Argent, onde , desde as panelas até os cabides, tudo era de prata.

Será em Paris que os cafés irão respirar mais espiritualidade, mais arte, mais literatura. Ao café ia-se para beber, mas sobretudo para conservar, trocar idéias e participar da aura criadora que envolvia esses ambientes. Um marco na vida dos cafés parisienses foi a inauguração, em 1675, do Procope, de propriedade do siciliano Francesco Procopio Dei Coltelli.

O luxuoso estabelecimento era ornamentado com enormes espelhos, ricas tapeçarias e belos lustres de cristal; e a proximidade da Comédie Française propiciava a freqüência de atores comediantes e espectadores. Também eram assíduos comensais de suas mesas de mármores escritores famosos, como La Fontaine, Diderot, D'Alembert e Voltaire, que tinha no café a sua bebida favorita.

Freqüentados, nos tempos revolucionários, por Danton, Marat e Robespierre, de suas salas partiu a ordem para o ataque à Tulherias. E, quando a calma retornou à cidade, o Procope voltou a ser ponto de encontro de escritores como George Sand, Musset, Verlaine e Anatole France.

Os cafés proliferaram em Paris. Entre os mais famosos estavam o Café Laurent, ponto de encontro de literatos, o Café de la Regence, conhecido pelas partidas de dados e jogos de dama, e o Café de Foy, preferido por oficiais e homens de negócios. Outros estabelecimentos devem ser lembrados, como o Café Della Rotonde e o Divan, este o preferido de Balzac, e já no nosso século XX o Deux Magots e o Flore, epicentros do existencialismo, enquanto o La Cupole era o ponto de reunião dos pintores cubistas.

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O primeiro café italiano foi o Veneza Triunfante, fundado em 1720 por Floriano Francesconi. Deu origem ainda hoje famoso Café Florian, palco dos grandes momentos da vida italiana, que dividiu com o Café Quadri a preferência de artistas e literatos.

O mais famoso e antigo café romano é o Greco, em cuja saleta, denominada o sacrário del Greco, brilharam uma plêiade de celebridades como Goethe, Stendal, Goldoni, Mark Twain, enfim, o que havia de mais importante na música e literatura mundiais.

Em Padova, encontramos o Café Pedrocchi, conhecido como a mais linda casa de café do mundo. Verdadeiro monumento arquitetônico tem, inclusive, uma sala de concertos e mantinha no século passado um jornal, II Caffé Pedrocchi, dedicado à arte e literatura.

Em Turim, os cafés tiveram importante papel na história do Risorgimento Italiano, destacando-se o Café Flório, quartel-general de Cavour e seus companheiros, enquanto que em Florença, terra das artes, o Café Michelangelo reunia um grande círculo de artistas.

O primeiro café norte-americano foi o London Coffee House, de Boston, logo seguido pelo King's Arms, instalado em 1696 na Broadway. Interessante destacar que os cafés americanos funcionavam como locais para o julgamento das questões judiciais e assembléias populares.

A história política e social de Portugal fez-se à volta das mesas dos cafés, onde nasceram os movimentos que agitaram o país no século XIX. Havia o Nicola, preferido por Bocage, e Martinho, ponto de encontro de Eça de Queiroz, Fialho de Almeida e João de Deus, onde mais tarde também se reuniram os participantes do movimento Modernista, tendo à frente Fernando Pessoa.

No Brasil, a cidade em que os cafés tiveram maior importância como centro de atividades literárias e políticas foi o Rio de Janeiro. Segundo Luiz Edmundo, no seu Rio de Janeiro do meu Tempo, "o café, no começo do século, era meio casa de família, meio grêmio, meio escritório, sempre cheio, ponto agradável de reunião e de palestra, onde se recebiam recados, cartas, amigos, conhecidos e até credores. Daí a intimidade verdadeiramente doméstica que se estabelecia entre freqüentadores e empregados, que acabavam sabendo da vida de todos".

cafe do rio

O coração da cidade era esquina das ruas Ouvidor e Gonçalves Dias, e nesse ponto é que se instalou o famoso Café do Rio. Em estilo art noveau, ornamentado com os infalíveis espelhos, em suas mesas de mármore, com cadeiras Thonet, reuniam-se todas as tardes o que a cidade tinha de mais representativo, no meio de um barulho e confusão gerais, tão a gosto dos cariocas. A freqüência das três às seis da tarde era composta de estudantes da Escola Militar e da Politécnica; mais tarde surgiram os políticos como Pinheiro Machado, Flores da Cunha, Francisco Glicério, Barbosa Lima e Lauro Müller; músicos como Júlio Reis; pintores como Antônio Parreiras e Bernardelli, e tantos outros.

Também famoso era o Café de Paris, no Largo da Carioca, ponto de reunião da boêmia da época, freguesia composta de artistas, pintores e jornalistas que, segundo Luis Edmundo, "devido às suas parcas posses era consumidora de poucas xícaras de café e muitos copos d'água".

No beco das Cancelas, o Café das Cascatas apresentava uma harpista que executava músicas eruditas. Na rua 1º de março ficavam o Globo, com suas animadoras tertúlias, e o Carceler, pioneiro em adotar a moda das mesas na calçada. Na Rua do Rosário, o Café do Amorim, onde se bebia o melhor cafezinho da cidade, freqüentado por tabeliães, funcionários e negociantes portugueses.

O Café Papagaio, na Rua Gonçalves Dias, foi sem dúvida o mais típico dos cafés brasileiros, onde os freqüentadores eram saudados pelo irreverente Bocage, ave que deu nome ao estabelecimento. Um conjunto composto de harpa, flauta e dois violinos executava músicas de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, animando um ambiente descontraído, do qual participavam Paula Nei, Bastos Tigre, Raul Pederneiras, Olegário Mariano e outras personalidades de destaque da Capital da República.

Na década de vinte, a vida do Rio de Janeiro passou por modificações que provocaram o desaparecimento do espírito dos cafés e o fechamento dos estabeleci- mentos mais tradicionais. Outros surgiram, porém, como o Lamas, o Amarelinho e o Nice, que serão os últimos cafés da cidade. Enquanto o Lamas, situado no Largo do Machado, era reduto de estudantes, o Café Nice, na Avenida Rio Branco, era o ponto de reunião dos artistas da música popular, no tempo áureo do rádio brasileiro.

Em São Paulo, por volta de 1850, apareceu o primeiro local de venda da bebida na cidade: a casa de Maria Punga, situada na Rua da Imperatriz, hoje 15 de Novembro, onde o café era servido na varanda, a 40 réis a xícara, para uma freguesia composta de acadêmicos de Direito, empregados do comércio e negociantes.

Em 1876 foi inaugurado o Café Europeu, o primeiro café da cidade, instalado num ambiente de muito luxo e requinte, na esquina do Beco do Inferno com a Rua da Imperatriz, em pleno coração de São Paulo. O Acadêmico, na Rua de São Bento, e o Girondino, no Largo da Sé, eram os preferidos pela mocidade sonhadora e ruidosa da academia de Direito, que ao lado de pintores, músicos e intelectuais que formavam a boêmia da época, varavam a noite em animadas tertúlias, quebrando a monotonia da provinciana paulicéia.

Na Ladeira de São João ficava o Café Brandão, ponto de reunião de homens de negócios, figurões da política e fazendeiros endinheirados. Outros estabelecimentos surgiram, como o Café Guarani, o Java, o América e, mais tarde, o Café Viaduto, na Rua Direita, lugares agradáveis onde os paulistanos reuniam-se para uma boa conversa.

BOLSACAFeHavia um lugar, porém, em que o assunto abordado pelos freqüentadores era um só: o café. Eram os cafés situados em Santos, na zona do alto comércio cafeeiro, onde corretores, comissários, exportadores e fazendeiros discutiam e trocavam idéias sobre os negócios que envolviam a preciosa rubiácea.

Os cafés tiveram, sem dúvida, grande importância através dos tempos. Ao redor de suas mesas, discutiram-se teorias, tramaram-se revoluções e surgiram idéias que marcaram profundamente a história da humanidade. Até hoje os cafés são locais onde pessoas se reúnem para discutir assunto importantes ou simplesmente passar o tempo, sendo o ritual do cafezinho uma tradição que sobreviveu a todas as transformações.

Nos últimos anos, houve uma onda provocada pelas modernas máquinas de café expresso, que revolucionaram o hábito do cafezinho, permitindo um crescimento vertiginoso das cadeias de lojas de café.

A técnica de gerenciamento por meio do sistema de licença da marca também permitiu um rápido desenvolvimento dessas lojas especiais, voltadas para um mercado mais exigente, o de café Gourmet.